terça-feira, 26 de abril de 2016

Cemitério de Pianos - José Luís Peixoto

O cemitério de pianos poderia ser apenas isso mesmo, um cemitério de pianos, mas nunca para a família Lázaro. Desde que apareceu o italiano com um piano estragado, mais que um cemitério de pianos nasceu um elo forte para toda esta família.

42,195 km é a distância oficial  de uma maratona, através dos quais o corredor gere os seus recursos para atingir o seu propósito. Em Estocolmo, pelas ruas de Benfica, ou noutro sítio qualquer, o autor transporta-nos diversas vezes para a cabeça do pelotão, aumentando ou diminuindo, também ele, a velocidade a que nos transporta.

Cemitério de Pianos é um relato na primeira pessoa de diferentes gerações da família Lázaro. Uma família singular mas nem por isso diferente de todas as outras, onde reinam laços de sentimento muito fortes, apesar dos inevitáveis telhados de vidro. José Luís Peixoto através de uma escrita rica e rendilhada, senta-nos à mesa desta família e permite-nos entrar na sua vida como e fossemos mais um elemento. Poder-se-á dizer que é uma família problemática, perturbada, mas para o leitor (que acabou de entrar na família) tudo é normal.

Com um estilo um pouco labiríntico, esta escrita transportou-me por vezes para o mundo de António Lobo Antunes. Através de uma simples metáfora, o leitor sente como que um murro no estômago e percebe que a a vida é mesmo assim...

"...os copos de vinho que eu bebia não sabiam a nada e embebedavam outra pessoa..."

A determinada altura, um dos Lázaros conta como foi que pela primeira vez bateu na mulher. Uma cena dura, intrigante e reveladora. Reveladora essencialmente da mestria de José Luís Peixoto. É impossível não querer entrar em cena para impedir o que está prestes a acontecer.

Se tivesse que escolher as duas palavras que melhor definem este romance, a primeira seria obviamente família por tudo o que já disse. A segunda seria a morte. No fundo todos nós somos pianos. A poucos metros de conseguir ganhar a dita maratona em Estocolmo, Francisco Lázaro não consegue resistir e desiste, acabando por falecer. No outro lado da Europa, em Portugal, a sua mulher acabava de dar à luz um belo menino,

A magia está nos sentimentos, na forma com que através de uma simplicidade enorme os faz chegar a nós. A dor está sempre presente, mas parece tão simples, tão natural. Fiquei rendido a esta forma de escrever e posso dizer sem hesitar que da nova vaga de autores portugueses, José Luís Peixoto, assume lugar no top.

Págs. 285
Ref. ISBN: 978-972-564-823-0
Editora: Quetzal