Estou em processo de mudança de casa. Quem já passou por
isso sabe o que é ter todos os seus pertences divididos por caixas espalhadas
por diversos sítios. No meio dessa azáfama esqueci-me de escolher o livro para
levar de férias! Não resta alternativa. Vou ter de abrir uma caixa “ao calhas”
e retirar o primeiro que aparecer. Apenas um requisito, tem de ser romance. Se
esteve na minha estante há-de ter algo de bom.
O menino de Cabul. Lembro-me perfeitamente de comprar este
livro, embora já tenha sido há algum tempo. Num daqueles passeios pela Bertrand
deixei-me levar pela beleza da ilustração da capa e pelos comentários da
crítica que constam na contracapa.
Este romance marca a estreia do autor. E que estreia! Não
hajam dúvidas que entrou com o pé direito. Amir, o narrador desta história, é
um afegão oriundo de uma família de classe alta que se viu privado da mãe à
nascença, tendo sido criado pelo pai. Hassan é o seu amigo de sempre. O jovem
filho do criado de quem é quase irmão.
A atenção do pai divide-se entre ambos. Amir vive com alguns
preconceitos que lhe geram insegurança e outros problemas de personalidade.
Hassan entende-o como ninguém, a cumplicidade é imensa, porém por vezes
funciona em sentido único.
Depois de uma corrida de papagaios em que Amir conta com a
ajuda de Hassan, Amir ganha, e com este feito pode finalmente cair em graças
com o pai. Mas afinal, tudo não passa do dia mais negro da sua vida. Hassan é
cruelmente humilhado e violado. Amir assiste a tudo, mas é impedido pela sua
cobardia de intervir e tentar ajudar o amigo. Feridas que ficam abertas e que o
tempo impedirá de sarar.
O fim da monarquia, as invasões russas, levaram imensas famílias
a ter abandonar o Afeganistão. Amir e o pai não foram exceção. Fugiram, inicialmente
para o Paquistão, posteriormente para os Estados Unidos.
Hoje, um homem feito, Amir tem uma vida estável sem grandes
problemas, mas um telefonema vindo do Médio Oriente vai acabar com a monotonia
do seu dia-a-dia. Há contas do passado que tem de ser terminadas…
Não tenho outra forma de o dizer. Gostei imenso deste livro!
Por mais que uma vez conseguiu deixar-me os olhos molhados, tal é a intensidade
com que está escrito. Que mais podemos desejar de um livro?
Gostei essencialmente do enredo intenso e envolvente, mas
também da descrição da tragédia que assolou o Afeganistão, que veio de encontro
ao que eu imaginava, mas sendo agora para mim ainda mais real.
Um livro bonito em que a honestidade da narrativa mostra
como quase sempre, o menos é mais e como a simplicidade pode ser arrebatadora.
Págs. 336
Ref. ISBN: 972-708-861-9
Editora: Relógio d'Água