terça-feira, 24 de julho de 2018

O menino de Cabul - Khaled Hosseini

Desta vez tudo foi diferente. Desta vez, aquele jogo de enamoramento, de que tanto gosto, entre mim e a estante de livros não aconteceu. Desta vez não fui eu que escolhi… Mas valeu a pena!
Estou em processo de mudança de casa. Quem já passou por isso sabe o que é ter todos os seus pertences divididos por caixas espalhadas por diversos sítios. No meio dessa azáfama esqueci-me de escolher o livro para levar de férias! Não resta alternativa. Vou ter de abrir uma caixa “ao calhas” e retirar o primeiro que aparecer. Apenas um requisito, tem de ser romance. Se esteve na minha estante há-de ter algo de bom.
O menino de Cabul. Lembro-me perfeitamente de comprar este livro, embora já tenha sido há algum tempo. Num daqueles passeios pela Bertrand deixei-me levar pela beleza da ilustração da capa e pelos comentários da crítica que constam na contracapa.
Este romance marca a estreia do autor. E que estreia! Não hajam dúvidas que entrou com o pé direito. Amir, o narrador desta história, é um afegão oriundo de uma família de classe alta que se viu privado da mãe à nascença, tendo sido criado pelo pai. Hassan é o seu amigo de sempre. O jovem filho do criado de quem é quase irmão.
A atenção do pai divide-se entre ambos. Amir vive com alguns preconceitos que lhe geram insegurança e outros problemas de personalidade. Hassan entende-o como ninguém, a cumplicidade é imensa, porém por vezes funciona em sentido único.
Depois de uma corrida de papagaios em que Amir conta com a ajuda de Hassan, Amir ganha, e com este feito pode finalmente cair em graças com o pai. Mas afinal, tudo não passa do dia mais negro da sua vida. Hassan é cruelmente humilhado e violado. Amir assiste a tudo, mas é impedido pela sua cobardia de intervir e tentar ajudar o amigo. Feridas que ficam abertas e que o tempo impedirá de sarar.
O fim da monarquia, as invasões russas, levaram imensas famílias a ter abandonar o Afeganistão. Amir e o pai não foram exceção. Fugiram, inicialmente para o Paquistão, posteriormente para os Estados Unidos.
Hoje, um homem feito, Amir tem uma vida estável sem grandes problemas, mas um telefonema vindo do Médio Oriente vai acabar com a monotonia do seu dia-a-dia. Há contas do passado que tem de ser terminadas…
Não tenho outra forma de o dizer. Gostei imenso deste livro! Por mais que uma vez conseguiu deixar-me os olhos molhados, tal é a intensidade com que está escrito. Que mais podemos desejar de um livro?
Gostei essencialmente do enredo intenso e envolvente, mas também da descrição da tragédia que assolou o Afeganistão, que veio de encontro ao que eu imaginava, mas sendo agora para mim ainda mais real.
Um livro bonito em que a honestidade da narrativa mostra como quase sempre, o menos é mais e como a simplicidade pode ser arrebatadora.

Págs. 336
Ref. ISBN: 972-708-861-9
Editora: Relógio d'Água