No mundo da literatura, como aliás noutros também, há determinadas perguntas que se tornam em clichés. "O que é para si um bom livro?" é uma delas. E aquilo que há partida pode ser uma pergunta difícil de responder, não o será efectivamente se tivermos presente "A papisa Joana".
Este livro prendeu-me do princípio ao fim ao ponto de algumas vezes já me doerem os olhos de tanto ler. Mas a vontade era muita e afinal estava a valer a pena. Não há que reclamar. Não é isso que pretendemos de um livro?
Tudo começa na primeira metade do séc. IX, quando numa família humilde nasceu uma menina de seu nome Joana. Numa época em que nascer mulher, significava ter uma vida inferior, ser menor, ser incapacitada, etc., para o pai de Joana, cónego da aldeia, considerou o nascimento da menina um castigo de Deus.
Joana nunca se conformou com a sua sorte. Mesmo sendo menina, desde cedo cultivou o gosto por estudar, aprendendo com o seu irmão mais velho, sempre às escondidas do pai. Um dia o seu irmão morreu e ela continuou sempre a ler e a aprender, mas agora sozinha.
Aproveitando a visita de um professor grego a casa de seu pai, Joana não perde a oportunidade de mostrar os seus dotes, conseguindo com isso aulas para si e para o seu irmão João, embora mais uma vez contra a vontade do pai. Estava dado o primeiro passo para aquele que tinha sido eleito o seu principal objectivo: aprender.
Mais tarde, por uma questão de sobrevivência, vê-se obrigada a fazer-se passar por rapaz passa a ser conhecida por João Anglicus. A história continua, e em breve torna-se padre e facilmente se depreende pelo nome do livro que chegará a ser papa. Pelo meio, um romance bonito que vale a pena acompanhar.
Muito mais haveria para dizer, mas o que realmente é importante reter é que A papisa Joana é definitivamente um livro a não perder.
Quando comecei a ler os últimos capítulos comecei a questionar-me sobre o que teria esta história de verdadeiro. Foi com enorme surpresa e satisfação que mais alguém pensou nisso e colocou um pequeno capítulo no final do livro a responder a esta questão.
Agora, uma pequena reflexão:
Não sei se reparam na descrição que fiz, mas o pai de Joana era cónego. Ou seja no séc. IX era comum cónegos, padres e bispos terem uma vida conjugal, filhos, etc. Porque é que doze séculos depois estamos neste assunto a evolução andou no sentido inverso?
Por último uma questão, sendo este livro tão bom, porque será que Donna Woolfolk Cross nunca mais escreveu nenhum romance?
Págs. 455
Ref. ISBN: 978-972-23-2641-4
Editora: Editorial Presença