Publicado em 1880, O Mandarim é uma novela de Eça de Queirós que combina fantasia, ironia e crítica moral. A narrativa acompanha Teodoro, um modesto funcionário público de Lisboa, que recebe a estranha tentação de matar, à distância e sem consequências visíveis, um mandarim chinês riquíssimo, herdando assim a sua fortuna. A escolha feita pelo protagonista abre caminho a uma reflexão sobre a cobiça, a consciência e a inevitável culpa.
O que inicialmente parece um simples conto fantástico revela-se uma sátira mordaz ao materialismo e à fraqueza moral humana. Eça constrói uma história curta, mas repleta de simbolismo, onde o realismo da sociedade lisboeta se mistura com elementos de fantasia, criando um cenário propício à introspeção. O tom irónico e o estilo elegante tornam a leitura envolvente, mesmo quando o enredo aponta para questões desconfortáveis.
A jornada de Teodoro, entre o luxo conquistado e o peso do remorso, mostra como a ambição, quando não moderada por princípios éticos, conduz à insatisfação e à ruína interior. É uma obra que, embora enraizada no século XIX, continua a interpelar o leitor moderno sobre os limites da consciência e as tentações que podem corromper a alma.
Gostei particularmente da forma como Eça equilibra humor e crítica, mantendo o texto leve, mas cheio de significado. O Mandarim é mais do que uma simples novela moral: é um convite à reflexão sobre as escolhas que fazemos e sobre o preço — visível ou não — que podemos pagar por elas. Ler Eça é um convite a viajar, é mergulhar no poço de cultura de alguém que, apesar de ter vivido no século XIX, tinha imenso mundo para partilhar.
Págs. 96
Ref. ISBN: 978-989-554-749-4
Editora: Diário de Notícias