Em Roma sê romano, então, se vais para a República Dominicana
leva um livro de um autor dominicano. Foi este o meu pontapé de saída para a
escolha deste livro e devo dizer que sempre que possível será um critério a seguir
no futuro. É um privilégio sentir o sítio onde estamos, acompanhados de um
guia especial, e através dele tentar estabelecer paralelismos entre o real e a
ficção.
Para falar da vida de Oscar Wao, temos de falar primeiro
sobre a palavra-chave deste romance: “Fukú”
“Seja qual for o seu nome ou a sua origem, acredita-se que a
chegada dos Espanhóis a Hispniola soltou o fukú no mundo, e temos estado todos
enterrados na merda desde essa altura… o fukú era real como a merda, uma coisa
que qualquer gajo normal era capaz de acreditar. Toda a gente sabia de alguém
que tinha sido comido por um fukú”
Facilmente se depreende que fukú é aquilo que por aqui facilmente
se apelidaria de maldição, bruxedo ou mau-olhado. A breve e assombrosa vida de
Oscar Wao é, na verdade, bem mais do que a vida Oscar Wao, é sim a história de
um povo que sentiu na pele o poder do fukú. “Não se poderá dizer com toda a
certeza, porém tudo leva a crer que o mestre / o chefe do fukú era também o
chefe da nação, o ditador Trujillo.
Junot Díaz serve-nos um banho cultural sobre aquilo que é o
povo dominicano e os seus costumes. A vida de Oscar Wao é o meio utilizado para
ilustrar a forma de ser, estar e pensar, tornando-se num dos pontos de maior
interesse da obra.
Oscar Wao é dominicano atualmente a viver em Paterson (Nova
Jersey). Um dominicano especial. Tem o poder de conseguir reunir em si uma
série de características que fogem ao estereótipo dos jovens ditos normais para
a sua idade. É grande, gordo e feio. Vive isolado e é motivo de chacota para os
seus colegas. Com as raparigas nem nos sonhos tem sucesso, o que por si só lhe
garante um lugar de destaque na sociedade. Não é fácil conseguir encontrar
outro caribenho da sua idade que se mantém virgem. Na sua vida as desilusões
sucedem-se.
Conforme indica o nome do livro, a vida de Oscar Wao é breve
e assombrosa. Uma consequência lógica do seu fukú e do dos seus antepassados.
Esta é afinal a história de uma família e de um povo que o Observador
(narrador) mostra percorrendo os pontos de vista de Oscar, claro, mas também da
mãe, da avó, do avô, da irmã e outros elementos chegados. Não há quem não
cultive um sentimento de pena sobre a sorte, ou a falta dela, de Oscar Wao. Como
se costuma dizer, é uma vida de fazer chorar as pedras da calçada.
A escrita de Junot Díaz nem sempre é a mais empolgante,
ainda assim, revela-se bastante inteligente e apaixonada. Em cada filamento
desta teia é possível sentir o orgulho do autor nas suas origens. Em termos de
balanço poderei dizer que foi esse mesmo o ponto que mais gostei nesta obra.
Págs. 294
Ref. ISBN: 978-972-004-148-7
Editora: Porto Editora
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