sábado, 22 de outubro de 2016

O Fim dos Segredos - Catarina Guerreiro

Tudo aquilo que se encontra envolto em secretismo desperta a nossa curiosidade. É a natureza humana. Como diz a sabedoria popular, “o fruto proibido é sempre o mais apetecido”. Eu, claro, não sou diferente. Sempre tive imensa curiosidade em saber mais sobre a Maçonaria e o Opus Dei. Assim, quando vi a nota de lançamento desta obra de Catarina Guerreiro, logo decidi que era um livro a não perder. 

Como foi a minha primeira incursão nesta temática, muito do que li traduziu-se em novidade. Apesar de não ser um romance, o tema deu-me sempre vontade de ler mais e não foi, de todo, tempo perdido.
São doze os capítulos sobre diferentes temáticas. Em cada um deles, a autora fala sobre o Opus Dei e estabelece o paralelismo com a Maçonaria. Penso que a organização dos temas não é a melhor. Penso ainda que, em muitos casos, é assumido que o leitor já tem muito conhecimento sobre estas organizações. Por vezes, a existência de alguns esquemas poderia ajudar um pouco. Ainda assim, considero este um trabalho bem conseguido.

No Opus Dei há membros que fazem um acordo para a vida. Aderem, em muitos casos, no início da adolescência e comprometem-se a nunca casar nem ter filhos. Existem também membros casados e nesses casos, normalmente as famílias são numerosas, uma vez que a utilização de contracetivos não é permitida. A relação dos membros com a congregação é bastante forte. É normal oferecer a totalidade do ordenado e utilizar chicotes ou correntes de metal com picos, para se penitenciarem.

Se no Opus Dei há uma relação direta com a Igreja, na Maçonaria a relação é mais direta com as máquinas partidárias, podendo também estar, ou não, relacionada com a Igreja. É precisamente nas juventudes partidárias e nos meios académicos que se situam os principais pontos de recrutamento.  Existem várias lojas maçónicas, cada uma seguindo o seu rito. Daí que os rituais possam ser bastante diferentes entre lojas. Cada membro paga uma jóia de entrada e uma quota mensal. No entanto, em algumas lojas é bastante comum circular um saco preto do qual, discretamente, se pode retirar dinheiro.

Como disse, é um mundo oculto que me desperta interesse. Irei com certeza ler mais sobre o tema e sobre outras organizações (ex. templários). Se tiverem sugestões, por favor partilhem!

Págs. 389
Ref. ISBN: 978-989-626-726-1

domingo, 18 de setembro de 2016

A breve e Assombrosa Vida de Oscar Wao - Junot Díaz

Em Roma sê romano, então, se vais para a República Dominicana leva um livro de um autor dominicano. Foi este o meu pontapé de saída para a escolha deste livro e devo dizer que sempre que possível será um critério a seguir no futuro. É um privilégio sentir o sítio onde estamos, acompanhados de um guia especial, e através dele tentar estabelecer paralelismos entre o real e a ficção.

Para falar da vida de Oscar Wao, temos de falar primeiro sobre a palavra-chave deste romance: “Fukú”
“Seja qual for o seu nome ou a sua origem, acredita-se que a chegada dos Espanhóis a Hispniola soltou o fukú no mundo, e temos estado todos enterrados na merda desde essa altura… o fukú era real como a merda, uma coisa que qualquer gajo normal era capaz de acreditar. Toda a gente sabia de alguém que tinha sido comido por um fukú”

Facilmente se depreende que fukú é aquilo que por aqui facilmente se apelidaria de maldição, bruxedo ou mau-olhado. A breve e assombrosa vida de Oscar Wao é, na verdade, bem mais do que a vida Oscar Wao, é sim a história de um povo que sentiu na pele o poder do fukú. “Não se poderá dizer com toda a certeza, porém tudo leva a crer que o mestre / o chefe do fukú era também o chefe da nação, o ditador Trujillo.

Junot Díaz serve-nos um banho cultural sobre aquilo que é o povo dominicano e os seus costumes. A vida de Oscar Wao é o meio utilizado para ilustrar a forma de ser, estar e pensar, tornando-se num dos pontos de maior interesse da obra.

Oscar Wao é dominicano atualmente a viver em Paterson (Nova Jersey). Um dominicano especial. Tem o poder de conseguir reunir em si uma série de características que fogem ao estereótipo dos jovens ditos normais para a sua idade. É grande, gordo e feio. Vive isolado e é motivo de chacota para os seus colegas. Com as raparigas nem nos sonhos tem sucesso, o que por si só lhe garante um lugar de destaque na sociedade. Não é fácil conseguir encontrar outro caribenho da sua idade que se mantém virgem. Na sua vida as desilusões sucedem-se.

Conforme indica o nome do livro, a vida de Oscar Wao é breve e assombrosa. Uma consequência lógica do seu fukú e do dos seus antepassados. Esta é afinal a história de uma família e de um povo que o Observador (narrador) mostra percorrendo os pontos de vista de Oscar, claro, mas também da mãe, da avó, do avô, da irmã e outros elementos chegados. Não há quem não cultive um sentimento de pena sobre a sorte, ou a falta dela, de Oscar Wao. Como se costuma dizer, é uma vida de fazer chorar as pedras da calçada.

A escrita de Junot Díaz nem sempre é a mais empolgante, ainda assim, revela-se bastante inteligente e apaixonada. Em cada filamento desta teia é possível sentir o orgulho do autor nas suas origens. Em termos de balanço poderei dizer que foi esse mesmo o ponto que mais gostei nesta obra.

Págs. 294
Ref. ISBN: 978-972-004-148-7
Editora: Porto Editora

terça-feira, 26 de abril de 2016

Cemitério de Pianos - José Luís Peixoto

O cemitério de pianos poderia ser apenas isso mesmo, um cemitério de pianos, mas nunca para a família Lázaro. Desde que apareceu o italiano com um piano estragado, mais que um cemitério de pianos nasceu um elo forte para toda esta família.

42,195 km é a distância oficial  de uma maratona, através dos quais o corredor gere os seus recursos para atingir o seu propósito. Em Estocolmo, pelas ruas de Benfica, ou noutro sítio qualquer, o autor transporta-nos diversas vezes para a cabeça do pelotão, aumentando ou diminuindo, também ele, a velocidade a que nos transporta.

Cemitério de Pianos é um relato na primeira pessoa de diferentes gerações da família Lázaro. Uma família singular mas nem por isso diferente de todas as outras, onde reinam laços de sentimento muito fortes, apesar dos inevitáveis telhados de vidro. José Luís Peixoto através de uma escrita rica e rendilhada, senta-nos à mesa desta família e permite-nos entrar na sua vida como e fossemos mais um elemento. Poder-se-á dizer que é uma família problemática, perturbada, mas para o leitor (que acabou de entrar na família) tudo é normal.

Com um estilo um pouco labiríntico, esta escrita transportou-me por vezes para o mundo de António Lobo Antunes. Através de uma simples metáfora, o leitor sente como que um murro no estômago e percebe que a a vida é mesmo assim...

"...os copos de vinho que eu bebia não sabiam a nada e embebedavam outra pessoa..."

A determinada altura, um dos Lázaros conta como foi que pela primeira vez bateu na mulher. Uma cena dura, intrigante e reveladora. Reveladora essencialmente da mestria de José Luís Peixoto. É impossível não querer entrar em cena para impedir o que está prestes a acontecer.

Se tivesse que escolher as duas palavras que melhor definem este romance, a primeira seria obviamente família por tudo o que já disse. A segunda seria a morte. No fundo todos nós somos pianos. A poucos metros de conseguir ganhar a dita maratona em Estocolmo, Francisco Lázaro não consegue resistir e desiste, acabando por falecer. No outro lado da Europa, em Portugal, a sua mulher acabava de dar à luz um belo menino,

A magia está nos sentimentos, na forma com que através de uma simplicidade enorme os faz chegar a nós. A dor está sempre presente, mas parece tão simples, tão natural. Fiquei rendido a esta forma de escrever e posso dizer sem hesitar que da nova vaga de autores portugueses, José Luís Peixoto, assume lugar no top.

Págs. 285
Ref. ISBN: 978-972-564-823-0
Editora: Quetzal

sábado, 16 de janeiro de 2016

Um mundo sem fim (Vol.2) - Ken Follett

O primeiro volume de Um mundo sem fim terminou com um episódio trágico e um pouco angustiante. Godwin com a ajuda de Philemon criaram um embuste a Caris, acusando-a de praticar rituais de bruxaria. Desta forma conseguiriam tirá-la do seu caminho, impedindo-a de conseguir o foral de burgo para Kingsbridge e de se tornar candidata, provavelmente vencedora, ao cargo de regedora da guilda, conforme fora seu pai.

Com a preciosa ajuda da Madre Cecília, Caris conseguiu livrar-se da pena de morte, embora não se tenha conseguido livrar de uma pena. Teve de entrar para o convento como freira noviça. Merthin, com quem iria casar no dia seguinte, desiludido e desconsolado, decidiu ir morar para Florença...

Os anos seguintes foram de aflição não só para Kingsbridge ou para a Inglaterra, mas para a toda a Europa. Deflagrou a peste negra e em Kingsbridge mais de metade da população acabou por morrer. Caris mostra uma vez mais a sua capacidade de encontrar algo positivo onde os outros apenas vêem desgraça e acaba mesmo por descobrir a sua verdadeira vocação. Tratar de enfermos. 

A capacidade de Ken Follett nos fazer apaixonar pelas suas personagens já não é uma novidade. Neste volume é particularmente interessante acompanhar o desenvolvimento das personagens Caris, Merthin e Gwenda. A vontade de ler mais e mais nunca nos abandona tal é a intensidade da ação.
Caris como já disse descobre a sua vocação e empenha-se na construção de um hospital cheio de ideias inovadoras. Merthin mantém o seu desejo de construir o edifício mais alto de Inglaterra. Gwenda contínua a sua luta pela independência profissional da sua família, tão dependente do mau feitio de Ralph.

As lutas pelo poder são uma constante, com avanços e revezes tão característicos da narrativa de Follett. O seu compasso é muito próprio e é este fator que, aliado à sua capacidade de descrição, na minha opinião tornam as suas obras tão especiais. Facilmente nos imaginamos a passear pelas ruas de Kingsbridge a conviver com qualquer um dos personagens. A qualidade descritiva é tal que seria engraçado pedir a um grupo de pessoas para identificar numa fotografia Ralph ou qualquer outro dos quatro principais personagens. Acredito que os resultados não iriam divergir muito.

Quando faltam cerca de 20 páginas para o término deste livro, o leitor tem a sensação de que muito há ainda por resolver, no entanto como que por magia tudo se resolve. Terá sido depressa demais, ou será que sou eu que ainda não acabei e já estou a ansiar por mais?

Sem revelar o fim, dizer apenas que o livro termina conforme começou, em torno do segredo relacionado com Thomas, o qual se revelou de grande utilidade para o futuro de Kingsbridge.

Depois de ler Os pilares da terra e ter adorado, ler O mundo sem fim revelou ser mais do mesmo, uma obra TOP! 

Agora, resta ver o filme!



Págs. 592
Ref. ISBN: 978-972-23-4021-2