domingo, 9 de junho de 2013

Resultados: Passatempo A atitude faz a diferença


O random acabou de ditar o vencedor do passatempo A atitude faz a diferença.

26 - António Pereira Silva - Avanca

Para além de publicados aqui, os resultados serão comunicados aos vencedores por email.

Caso algum dos vencedores não responda ao email de notificação no prazo de uma semana será seleccionado um outro vencedor.

Mais uma vez agradecemos o apoio da NEXO na realização deste passatempo.

Obrigado ainda a todos os participantes.

domingo, 2 de junho de 2013

Maria dos Canos Serrados - Ricardo Adolfo

Nandos é um bar original. Um bar em Mem Martins ou algures ali perto com, imagine-se, uma carreira de tiro, à imagem da que Adolfo conheceu em Amesterdão.  Aqui Maria pode disparar de rajada para aliviar o stress e não só, da mesma forma com que escreve de rajada as páginas deste quase diário.

É em jeito de cartas na primeira pessoa que mostra a sua vida. De arma em punho e peito inchado mostra como uma galdéria vulgar pode ficar destemida para enfrentar o desemprego ou o seu namorado gigolô.

Mas desenganem-se os que pensarem que as rajadas do livro se ficam pelas paredes do Nandos. Logo nas primeiras linhas: "Velhinho, Estamos fodidas. Estamos muito fodidas. Estamos fodidas como o caralho". Aviso! Estas rajadas são para manter.

A inspiração para esta história vem da falência de uma grande empresa, ocorrida em Portugal nos anos 90 mas cuja a actualidade se mantém intacta. Talvez neste aspecto resida o maior encanto da escrita de Ricardo Adolfo, a sua capacidade transmitir o que se passa no seu país. Mais ainda se atendermos que é emigrante desde 1999. Possui uma escrita vernácula, original e cheia de vivências do autor.

"Achamos curioso estarmos em greve se estamos todos despedidos. Não sabíamos que era possível estarmos no olho da rua e ao mesmo tempo protestarmos pela falta de condições de um trabalho que não existe. É que nem estamos a protestar contra os despedimentos, estamos ainda na fase das reclamações contra os salários em atraso. Se calhar esta empresa vive em fusos horários diferentes e a doutora, como sempre, já vai muito à frente, já vai no próximo ano. No último plenário, ainda confirmámos com o grande líder se não era preciso termos trabalho para podermos reclamar a falta de pagamento. Disse-nos que isso eram detalhes técnicos irrelevantes e que o que interessava eram os direitos dos trabalhadores.
mas quem não tem trabalho tem direitos sobre o trabalho que não tem?"

Maria é uma moça de má rês, um rameira com carências. Carências de amor e carinho que o amante preto não lhe pode dar. Carências de uma prometida e sempre adiada promoção no emprego que a doutora insiste em dizer que não pode dar. Carências de uma vida melhor que persiste ser difícil.

Este é um livro de sensações contraditórias. Valter Hugo Mãe diz que "a nova literatura portuguesa tem de passar obrigatoriamente por aqui". Eu reconheço valor à obra e à forma original da escrita. Mentiria se dissesse que me apaixonou.

Págs.218
Ref. ISBN: 978-989-672-157-2
Editora: Alfaguara