Algo mais espiritual, foi o que procurei ao escolher uma obra de José Tolentino de Mendonça, o padre madeirense apontado por alguns como um possível futuro papa. Não sabemos se tal poderá vir ou não a acontecer, mas é de facto alguém que pertence a uma nova vaga da Igreja, em consonância com o Papa Francisco, que tende a aproximar esta instituição à realidade dos nossos dias. Já tinha visto algumas entrevistas suas das quais gostei particularmente, porém nunca tinha lido nada seu, ainda que a vontade já existisse há algum tempo.
Por altura da Quaresma, a Cúria Romana promove a a realização de exercícios espirituais com o mote de refletir sobre a vida e o mundo, o presente e o futuro.
O elogio da sede é uma compilação de reflexões, do ano em que estes exercícios foram dirigidos por José Tolentino Mendonça, por escolha de Sua Santidade, tendo estes textos servido de guião.
Mais do que um compendio de reflexões da Igreja sobre o mundo ou do que uma mensagem de esperança numa Igreja renovada, este livro fala-nos de sede, de uma sede espiritual que temos de combater para alimentar, pois apenas bebendo a podemos saciar e apenas saciando alimentamos a sua existência.
Este caminho é feito através da análise de algumas citações de ilustres conhecidos (Clarice Lispector, Eduardo Galeano, Cervantes, Fernando Pessoa, Santo Agostinho e muitos outros) que permitem fazer analogias com a mensagem que Tolentino Mendonça quer transmitir.
Vivemos uma vida virada para o consumismo. Estamos sempre prontos para olhar para o nosso umbigo e satisfazer o desejo do imediato, sem que com isso nos apercebamos que é uma satisfação efémera e que normalmente leva à frustração.
Este é um livro para crentes e para não crentes, para pessoas de mente aberta. O excerto que publico a seguir resume um pouco deste livro, que teve o dom de me abanar e fazer refletir sobre como olhar para esta sede de várias perspetivas.
"Jesus pede: «Dá-me de beber.» A sua sede não se materializa na água, porque não é de água a sua sede. É uma sede maior. É a sede de tocar as nossas sedes, de contactar com os nossos desertos, com as nossas feridas. É a sede dessa parte significativa de nós mesmos que fica tão frequentemente adiada, abandonada à solidão. É a sede dessa porção de nós (porção suspensa, omitida, calada) para a qual não encontramos interlocutor."
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