Quando lemos um livro, há sempre algo que fica, há sempre um sumo que nos deixa recordação na boca.
Diz-se que Manhattan Transfer é uma obra de referência do romance do início do século XX. John Dos Passos constrói a narrativa como um mosaico de pequenas histórias, cruzando personagens de diferentes origens sociais, cujas vidas se tocam ou desencontram na cidade. A escrita é fragmentada, quase cinematográfica, alternando diálogos rápidos, descrições visuais e mudanças súbitas de perspetiva, o que transmite o ritmo frenético e desigual da metrópole.
Mais do que seguir um enredo linear, o romance capta a atmosfera urbana e as tensões de uma sociedade em transformação — o sonho americano, as desigualdades, a ambição, a solidão. É uma obra que combina realismo e modernismo, e que mostra Nova Iorque como um espaço de oportunidades e desencantos, ao mesmo tempo fascinante e impiedoso.
Por algumas vezes fui transportado para a obra Berlim Alexander-Platz de Alfred Döblin, talvez pela época e pelo ambiente citadino.
Não posso dizer que morri de amores por este livro, para o qual tinha grande expectativa, porém reconheço mérito na escrita, essencialmente no poder descritivo (no que respeita ao contexto sociocultural).
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